Manejo e panorama de tratamento da síndrome do intestino curto

No congresso ASPEN 2022, que ocorreu de 26 a 29 de março de 2022, foram apresentadas diversas atualizações e diretrizes sobre o manejo do paciente com síndrome do intestino curto (SIC). Aqui comentamos sobre a apresentação feita por Prof. Dr. Kishore Iyer intitulada “Role of Medications in the Management of Chronic Intestinal Failure: Present and Future” que relatou o panorama atual de tratamento destes pacientes e quais as perspectivas futuras

 

A falência intestinal crônica é definida como a redução da função intestinal abaixo do mínimo necessário para a absorção de macronutrientes e/ou água e eletrólitos, de modo que a suplementação intravenosa é necessária para manter a saúde e/ou o crescimento do paciente. Já a síndrome do intestino curto (SIC) refere-se à perda de comprimento significativo do intestino devido a doença ou ressecção cirúrgica. A maioria dos casos de insuficiência intestinal, cerca de 70%, são devidos à SIC; entretanto, doenças funcionais, problemas de motilidade e obstrução intestinal também são causas comuns1. 

Em relação ao manejo da SIC, existem alguns pilares a serem considerados. Em primeiro lugar, a manipulação dietética e utilização de soluções orais para reidratação adequadas são essenciais para que o paciente tenha a melhor adaptação espontânea possível. As abordagens farmacológicas convencionais consistem na utilização de medicação antidiarreica e agentes antissecretórios, que também auxiliam na hiper adaptação do paciente. Por fim, há a possibilidade de uso de fatores de crescimento intestinais, que consistem na terapia “hormonal”. Neste cenário, é importante ressaltar que a nutrição parenteral (NP) deve ser considerada o manejo standard dos pacientes acometidos pela falência intestinal1. 

Ainda sobre o manejo do paciente com falência intestinal, deve-se ressaltar que as abordagens farmacológicas convencionais devem ser utilizadas como agentes de primeira linha no manejo da diarreia relacionada e das perdas excessivas pelo estoma. Ainda, os medicamentos devem ser prescritos reconhecendo a capacidade de absorção do intestino remanescente do paciente, além das propriedades farmacológicas do medicamento. Em outras palavras, é essencial que o médico esteja atento aos sinais de má absorção de nutrientes, fluidos, e drogas utilizadas1. 

Em 1996, com a publicação de um trabalho por Drucker DJ e colaboradores2, foram demonstrados os efeitos farmacodinâmicos da utilização de um peptídeo análogo de GLP-2. O análogo de GLP-2 levava a uma maior absorção de nutrientes, melhor absorção de líquidos, diminuição das perdas de fluido gastrointestinais e, ainda, levaria a um aumento da altura das vilosidades e profundidade das criptas intestinais2. Mais tarde, este análogo de GLP-2, conhecido por teduglutida, teve a sua eficácia e segurança analisada em pacientes com SIC no estudo clínico randomizado de fase 3, denominado de STEPS3. O desfecho primário de eficácia deste estudo foi o número de respondedores, ou seja, pacientes com redução ≥20% no volume de suporte parenteral desde o início do tratamento até as semanas 20 e 24. Houve significativamente mais respondedores no grupo teduglutida (27/43 [63%]) do que no grupo placebo (13/43 [30%]; P = 0,002). Além disso, o benefício dos pacientes foi contínuo ao longo do tratamento, levando a uma redução cada vez maior da necessidade nutrição parenteral. O desfecho secundário era redução no volume da nutrição parenteral. Em suma, o tratamento com teduglutida reduziu os volumes e o número de dias de suporte parenteral para pacientes com SIC3.  

A eficácia da tedaglutida também foi avaliada em pacientes pediátricos. Para isso, foi realizado um estudo clínico aberto, com um desenho muito parecido com o descrito acima. Os resultados também foram muito similares ao encontrado no estudo pivotal com adultos, concluindo que teduglutida pode ajudar no desmame da NP e contribuir com o alcance da autonomia enteral pelos pacientes pediátricos4.  

Atualmente, a tedaglutida é indicada para o tratamento de pacientes acima de um ano de idade com SIC e dependência de nutrição parenteral. Para receber a droga, o paciente deve ter passado por um período de estabilização intestinal. Além disso, o tratamento não é recomendado em caso de malignidade ativa ou suspeita5. 

Diversos estudos retrospectivos analisaram o ganho de autonomia enteral da NP pelos pacientes tratados com teduglutida. Uma análise post-hoc de 5 ensaios de clínicos que avaliaram a teduglutida em pacientes adultos mostrou que 16/134 pacientes com SIC e falência intestinal alcançaram autonomia enteral com o uso de teduglutida; 16/07 eram dependentes de NP intravenosa por > 5 anos; e 7/16 pacientes tinham ≤50 cm de intestino delgado remanescente; a maioria tinha cólon em continuidade6. 

Atualmente, outros análogos de GLP-2 estão sendo avaliados em estudos clínicos. Em geral, o diferencial destas novas moléculas se baseia na ação prolongada delas, além de possuírem uma meia-vida mais longa, em comparação com teduglutida7. 

 

C-APROM/BR/REV/0252 

Para saber mais acesse: https://www.takedapro.com.br/revestive/para-voce/tratamento-sindrome-intestino-curto/

Referências

  1. Kishore R Iyer et al., JPEN J Parenter Enteral Nutr. 2022 Mar;46(3):730-733. doi: 10.1002/jpen.2283. Epub 2021 Nov 18.
  2. Drucker DJ et al. Proc Natl Acad Sci U S A. 1996 Jul 23;93(15):7911-6
  3. Kocoshis SA et al, 2020; J Parener Enteral Nutr; 44: 621 – 631
  4. REVESTIVE® (teduglutida). Bula do profissional. ANVISA.
  5. Kishore R Iyer et al., JPEN J Parenter Enteral Nutr. 2017 Aug;41(6):946-951. doi: 10.1177/0148607116680791. Epub 2016 Nov 23.
  6. Hargrove DM et al J Pharmacol Exp Ther 373: 193 – 203
  7. Palle B Jeppesen et al. Gastroenterology. 2012 Dec;143(6):1473-1481.e3. doi: 10.1053/j.gastro.2012.09.007. Epub 2012 Sep 11.

 

Fonte: https://bit.ly/4fgodMA

Acessado em 24 de outrubro de 2024

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